Paulo Coelho

Stories & Reflections

Edií§í£o nº 142: Sexto pecado capital – inveja

Author: Paulo Coelho

Segundo o dicionário: s.f., do Latim Invidia. Misto de pena e de raiva; sentimento de desgosto pela prosperidade ou alegria de outrem; desejo de possuir aquilo que os outros possuem.

Para a Igreja Católica: Se opíµe ao Décimo Mandamento (Ní£o cobií§ar as coisas alheias). Aparece pela primeira vez no Genesis, na história de Caim e seu irmí£o Abel.

Em uma história judaica: Um discí­pulo questionou os rabinos a respeito da passagem no Genesis: “Agradou-se o Senhor de Abel e sua oferta, ao passo que de Caim e de sua oferta ní£o se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, e descaiu-lhe o semblante. Entí£o lhe disse o Senhor: por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? ”

Responderam os rabinos:

” Deus deve ter perguntado a Caim: por que andas irado? Foi porque ní£o aceitei tua oferenda, ou porque aceitei a oferenda de teu irmí£o?”

Para o jornalista Zuenir Ventura: Os verbos associados a ela (inveja) sí£o corrosí£o, destruií§í£o. Ao mesmo tempo, é preciso encarar a inveja como uma reaí§í£o humana. Todos os teóricos da inveja acham que a melhor maneira de lutar contra ela é assumir que todo mundo a tem, em graus diferentes.

Para o escritor Giovanni Papini: A melhor vinganí§a contra aqueles que me pretendem rebaixar consiste em ensaiar um ví´o para um cume mais elevado. Talvez ní£o subisse tanto sem o impulso de quem me queria por terra. O indiví­duo verdadeiramente sagaz faz mais: serve-se da própria difamaí§í£o para retocar melhor o seu retrato e suprimir as sombras que lhe afetam a luz. O invejoso torna-se, sem querer, o colaborador da sua perfeií§í£o.

A inveja e a ética: Para o cientista e pesquisador Dr. William M. Shelton, a inveja é uma reaí§í£o provocada por pessoas fracassadas, que buscam evadir-se da realidade escondendo-se por detrás de uma cruzada visando restabelecer “valores morais”, “ideais nobres”, e “justií§a social”. A situaí§í£o ganha uma dimensí£o perigosa quando o sistema escolar comeí§a a desenvolver no aluno o condicionamento para desprezar todos aqueles que conseguem ser bem-sucedidos, atribuindo sempre qualquer íªxito í  corrupí§í£o, manipulaí§í£o, e degradaí§í£o moral. Como a busca do sucesso é algo inerente í  condií§í£o humana, os estudantes terminam em um processo esquizofríªnico de odiar justamente aquilo que os levaria í  felicidade, aumentando desta maneira as crises de ansiedade, e diminuindo a capacidade de inovar e melhorar a sociedade.

Satí£ e os demí´nios: Os demí´nios vieram reclamar com o Prí­ncipe das Trevas. Há dois anos tentavam determinado monge que vive no deserto. “Já lhe oferecemos dinheiro, mulheres, tudo o que temos em nosso repertório, e nada funcionou.”

– Vocíªs ní£o conhecem direito o trabalho – respondeu Satanás. – Venham ver como se deve agir em um caso desses.

Voaram todos até a caverna onde o monge santo vivia. Ali, Satanás sussurrou no seu ouvido:

– Seu amigo Macário acaba de ser promovido a bispo de Alexandria.

Imediatamente o homem blasfemou contra os céus, e perdeu sua alma.

Comentário do Tao Te King: Os sábios perfeitos da Antigüidade eram misteriosos, sobrenaturais, penetrantes, profundos demais para serem compreendidos pelos homens.

Eram atentos como o homem que cruza o tormentoso rio em pleno degelo depois do inverno. Prudentes como aquele que é hóspede de alguém muito cerimonioso. Evanescentes como o gelo ao derreter. Despretensiosos como a madeira bruta que ní£o recebeu qualquer forma das mí£os humanas.

Quem pode, pela serenidade, purificar, pouco a pouco, o que é impuro? Quem pode tornar-se calmo e assim para sempre permanecer? Aquele que segue o Caminho Perfeito ní£o deseja estar cheio de coisa alguma.

(a seguir: Preguií§a, último pecado capital)

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