Paulo Coelho

Stories & Reflections

Edií§í£o nº 153 : Conversas com crianí§as

Author: Paulo Coelho

O que é traií§í£o?

O profeta caminhava pela rua, perguntando: “ní£o somos todos filhos do mesmo Pai Eterno?”.
A multidí£o concordava. E o profeta continuava: “e se é assim, por que traí­mos nosso irmí£o?”
Um garoto que assistia, perguntou ao pai: “o que é trair?”
“É enganar o seu companheiro para conseguir determinada vantagem”.
“E por que traí­mos nosso companheiro?” insistiu o garoto.
“Porque no passado alguém comeí§ou isto. Desde entí£o, ninguém sabe como parar a roda. Estamos sempre traindo ou sendo traí­dos”.
“Entí£o ní£o trairei ninguém”, disse o garoto.
E assim fez. Cresceu, apanhou muito da vida, mas manteve sua promessa.
Seus filhos sofreram menos e apanharam menos.
Seus netos nada sofreram.

Sobre o ciúme

Quando tinha onze anos, Anita foi reclamar com a mí£e. “Ní£o consigo ter amigas. Como sou muito ciumenta, elas se afastam”.
A mí£e estava cuidando de pintinhos recém-nascidos, e Anita pegou um deles, que logo tentou fugir. Quanto mais a menina apertava-o na mí£o, mais o pintinho se debatia.
A mí£e comentou: “experimente pegá-lo com suavidade”.
Anita obedeceu. Abriu as mí£os, e o pintinho parou de se debater. Comeí§ou a afagá-lo, e ele aninhou-se entre seus dedos.
“Também os seres humanos sí£o assim”, disse a mí£e. “Se vocíª quer prendíª-los de qualquer jeito, eles escapam. Mas se for doce com eles, irí£o permanecer sempre ao seu lado”.

As tríªs coisas

Chen Ziqin perguntou ao filho de Confúcio: “teu pai te ensina algo que ní£o sabemos?”
O outro respondeu: “Ní£o. Uma vez, quando eu estava sozinho, ele perguntou se eu lia poesias. Respondi que ní£o, e ele  mandou que lesse algumas, porque abrem na alma o caminho da inspiraí§í£o divina.
” Outra vez ele me perguntou se eu praticava os rituais de adoraí§í£o de Deus. Respondi que ní£o, e ele mandou fazer isto, pois o ato de adorar faria com que entendesse a mim mesmo. Mas nunca ficou me vigiando para ver se eu o obedecia”.
Quando Chen Ziqin  retirou-se, disse para si mesmo:
“Fiz uma pergunta, e obtive tríªs respostas. Aprendi algo sobre as poesias. Aprendi algo sobre os rituais de adoraí§í£o. E aprendi que um homem honesto nunca fica vigiando a honestidade dos outros”.

Em busca da chuva

Depois de quatro anos de seca na pequenina aldeia, o pároco reuniu todos para uma peregrinaí§í£o até a montanha; ali fariam uma prece coletiva, pedindo a chuva de volta.
No grupo, o padre notou um garoto, agasalhado e coberto por uma capa de chuva.
“Vocíª enlouqueceu?”, perguntou. “Nesta regií£o ní£o chove há cinco anos, e a subida vai lhe matar de calor!”
“Estou resfriado, padre. Se vamos pedir a Deus que chova, já imaginou a volta da montanha? Vai ser tal a enxurrada que preciso estar preparado”.
Neste momento,  ouviu-se um grande estrondo no céu e as primeiras gotas comeí§aram a cair. Bastou a fé de um menino para realizar um milagre esperado por milhares de homens.

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