Paulo Coelho

Stories & Reflections

Edií§í£o nº 182 – Quarta virtude cardinal: sabedoria

Author: Paulo Coelho

Segundo o dicionário: s.f., conhecimento profundo das coisas, natural ou adquirido; erudií§í£o; retidí£o.

Segundo o Novo Testamento: a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens. Ora, vede, irmí£os, a vossa vocaí§í£o, que ní£o sí£o muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que sí£o chamados.  Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes (Corintios 1: 25-27).

Segundo o Islí£: Um sábio chegou í  vila de Akbar e as pessoas ní£o deram muita importí¢ncia. Exceto um pequeno grupo de jovens, o sábio ní£o conseguiu interessar mais ninguém; pelo contrário, tornou-se motivo de ironia dos habitantes da cidade. Um dia passeava com alguns de seus discí­pulos pela rua principal, quando um grupo de homens e mulheres comeí§ou a insultá-lo. O sábio foi até eles, e abení§oou-os.

Ao sair dali, um dos discí­pulos comentou: “eles dizem coisas horrí­veis, e o senhor responde com belas palavras”.

E o sábio respondeu: “cada um de nós só pode oferecer o que tem”.

Segundo a tradií§í£o hassí­dica (judaica): Quando Moisés subiu aos céus para escrever determinada parte da Bí­blia, o Todo-Poderoso pediu que colocasse pequenas coroas em algumas letras da Torah. Moisés disse: “Mestre do Universo, por que colocar estas coroas?” Deus respondeu: “Porque daqui a cem geraí§íµes um homem chamado Akiva irá interpretá-las”.

“Mostre-me a interpretaí§í£o deste homem”, pediu Moisés.

O Senhor levou-o ao futuro, e colocou-o numa das aulas do rabino Akiva. Um aluno perguntava: “Rabino, por que estas coroas desenhadas em cima de algumas letras?”

“Ní£o sei”, respondeu Akiva. “E estou certo que nem Moisés sabia. Ele fez isto apenas para nos ensinar que, mesmo sem compreender tudo que o Senhor faz, ainda assim podemos confiar em sua sabedoria”.

No reino animal: A centopéia resolveu perguntar ao sábio da floresta, um macaco, qual o melhor remédio para a dor em suas pernas.

“Isto é reumatismo”, disse o macaco. “Vocíª tem pernas demais”.

“E como faí§o para ter apenas duas pernas?”

“Ní£o me amole com detalhes”, respondeu o macaco. “Um sábio apenas dá o melhor conselho; vocíª que resolva o problema”.

Uma cena que presenciei em 1997: um aprendiz de ocultismo que conheí§o, na esperaní§a de impressionar bem o seu mestre, leu alguns manuais de magia e resolveu comprar os materiais indicados nos textos.Com muita dificuldade conseguiu determinado tipo de incenso, alguns talismí£s, uma estrutura de madeira com caracteres sagrados escritos numa ordem estabelecida. Quando tomávamos café da manhí£ juntos com seu mestre, este comentou:

– Vocíª acredita que, enrolando fios de computador no pescoí§o, conseguirá a eficiíªncia da máquina? Acredita que, ao comprar chapéus e roupas sofisticadas, vai adquirir também o bom-gosto e a sofisticaí§í£o de que as criou?

“Os objetos podem ser seus aliados, mas ní£o contém qualquer tipo de sabedoria. Pratique primeiro a devoí§í£o e a disciplina, e tudo o mais lhe será acrescentado”.

Diante de Alexandre: o filósofo grego Anaximenes (400 A.C.) aproximou-se de Alexandre, o Grande, para tentar salvar sua cidade.

“Recebi-o porque sei que é um sábio. Mas tem minha palavra de rei que jamais aceitarei o que veio me pedir”, disse o poderoso guerreiro diante de seus generais.

“Vim apenas pedir que destrua minha cidade”, respondeu Anaximenes. E, desta maneira, a cidade foi salva.

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