Paulo Coelho

Aosta Valley, Montblanc, 15 setembro 2010

A] Escolha a montanha que deseja subir: ní£o se deixe levar pelos comentários de outros, dizendo “aquela é mais bonita”, ou “esta é mais fácil”. Vocíª irá gastar muita energia e muito entusiasmo para atingir seu objetivo, portanto é o único responsável, e deve ter certeza do que está fazendo.

B] Saiba como chegar diante dela: muitas vezes, a montanha é vista de longe – bela, interessante, cheia de desafios. Mas quando tentamos nos aproximar, o que acontece? As estradas a circundam, existem florestas entre vocíª e e seu objetivo, o que aparece claro no mapa é difí­cil na vida real. Portanto, tente todas os caminhos, as trilhas, até que um dia vocíª está em frente ao topo que pretende atingir.

C] Aprenda com quem já caminhou por ali: por mais que vocíª se julgue único, sempre alguém teve o mesmo sonho antes, e terminou deixando marcas que podem facilitar a caminhada; lugares onde colocar a corda, picadas, galhos quebrados para facilitar a marcha. A caminhada é sua, a responsabilidade também, mas ní£o se esqueí§a que a experiíªncia alheia ajuda muito.

D] Os perigos, visto de perto, sí£o controláveis: quando vocíª comeí§a a subir a montanha dos seus sonhos, preste atení§í£o ao redor. Há despenhadeiros, claro. Há fendas quase imperceptí­veis. Há pedras tí£o polidas pelas tempestades, que se tornam escorregadias como gelo. Mas se vocíª souber onde está colocando cada pé, irá notar as armadilhas, e saberá contorna-las.

E] A paisagem muda, portanto aproveite: claro que é preciso ter um objetivo em mente – chegar ao alto. Mas í  medida que se vai subindo, mais coisas podem ser vistas, e ní£o custa nada parar de vez em quanto e desfrutar um pouco o panorama ao redor. A cada metro conquistado, vocíª pode ver um pouco mais longe, e aproveite isso para descobrir coisas que ainda ní£o tinha percebido.

F] Respeite seu corpo: só consegue subir uma montanha quem dá ao corpo a atení§í£o que merece. Vocíª tem todo o tempo que a vida lhe dá, portanto caminhe sem exigir o que ní£o pode ser dado. Se andar depressa demais, irá ficar cansado e desistir no meio. Se andar muito devagar, a noite pode descer e vocíª estará perdido. Aproveite a paisagem, desfrute a água fresca dos mananciais e das frutas que a natureza generosamente lhe dá, mas continue andando.

G] Respeite sua alma: ní£o fique repetindo o tempo todo “eu vou conseguir”. Sua alma já sabe isso, o que ela precisa é usar a longa caminhada para poder crescer, estender-se pelo horizonte, atingir o céu. Uma obsessí£o ní£o ajuda em nada a busca do seu objetivo, e termina por tirar o prazer da escalada. Mas atení§í£o: tampouco fique repetindo “é mais difí­cil do que eu pensava”, porque isso o fará perder a forí§a interior.

H] Prepare-se para caminhar um quilí´metro a mais: o percurso até o topo da montanha é sempre maior do que o que vocíª está pensando. Ní£o se engane, há de chegar o momento em que o que parecia perto ainda está muito longe. Mas como vocíª se dispí´s a ir além, isso ní£o chega a ser um problema.

I] Alegre-se quando chegar ao cume: chore, bata palmas, grite aos quatro cantos que conseguiu, deixe que o vento lá em cima (porque lá em cima está sempre ventando) purifique sua mente, refresque seus pés suados e cansados, abra seus olhos, limpe a poeira do seu coraí§í£o. Que bom, o que antes era apenas um sonho, uma visí£o distante, agora é parte da sua vida, vocíª conseguiu.

J] Faí§a uma promessa: aproveite que vocíª descobriu uma forí§a que nem sequer conhecia, e diga para si mesmo que a partir de agora irá usa-la pelo resto de seus dias. De preferíªncia, prometa também descobrir outra montanha, e partir para uma nova aventura.

L] Conte sua história: sim, conte sua história. Díª seu exemplo. Diga a todos que é possí­vel, e outras pessoas entí£o sentirí£o coragem para enfrentar suas próprias montanhas.