Paulo Coelho

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Vinte anos depois: lendas do caminho

Author: Paulo Coelho

Percorrendo em 2006 o Caminho de Santiago de Compostela, vinte anos depois de minha primeira (e única) peregrinaí§í£o í  pé, lembro algumas das histórias que vamos aprendendo enquanto andamos. Para cada um dos temas abaixo há muitas versíµes, mas selecionei as que considero mais interessantes.

O nascimento da cidade

Uma das muitas lendas conta que o apóstolo Tiago vai até a provincia romana de Hispania, levar o evangelho. Mais tarde, retorna í  Jerusalem, onde é decapitado.

Dois de seus discí­pulos, Atanásio e Teodoro, colocam seus restos mortais em um barco sem leme, e partem em direí§í£o ao mar revolto, sendo guiados apenas pelas correntes marí­timas. Terminam dando no mesmo local onde antes Tiago estivera pregando a palavra de Jesus. Os discí­pulos enterram seu corpo ali.

O tempo passa, até que um pastor, chamado Pelayo, víª durante muitos dias uma chuva de estrelas em um campo. Guiado por esta chuva, encontra ruí­nas de tríªs tumbas – de Tiago e de seus dois discí­pulos. O rei Alfonso II manda erigir uma capela no local, “Campus Stellae” (Campo da Estrela), e as peregrinaí§íµes comeí§am. O nome latino vai aos poucos mudando, até transformar-se em Compostela.

A concha como sí­mbolo

No dia em que o barco com os restos mortais de Tiago chegava í  Galí­cia, uma forte tempestade ameaí§ava esmagá-lo contra as pedras da costa.

Um homem que passava, vendo aquilo, entrou no mar com o seu cavalo para tentar ajudar os navegantes; entretanto ele também é ví­tima da fúria dos elementos, e comeí§a a afogar-se. Acreditando que tudo está perdido, pede aos céus que tenha piedade de sua alma.

Neste momento, a tempestade acalma, e tanto o barco como o cavaleiro sí£o gentilmente conduzidos para uma praia. Ali, os discí­pulos Atanásio e Teodoro, notam que o cavalo está coberto de um tipo de concha, conhecida também como “vieira”.

Em homenagem ao heróico gesto, esta concha passa a ser o sí­mbolo do caminho, e pode ser encontrada em edifí­cios ao longo da rota, nas pontes, nos monumentos, e sobretudo nas mochilas dos peregrinos.

Tentando enganar o destino

No seu caminho até a Galicia, durante a Reconquista (guerras religiosas, que terminaram com os espanhóis expulsando os árabes da Pení­nsula Ibérica), o imperador Carlos Magno enfrenta as tropas de um traidor perto de Monjardin. Antes da batalha, reza para Santiago, que lhe revela o nome de 140 soldados que irí£o morrer na luta. Carlos Magno deixa estes homens no acampamento, e parte para o combate.

No final daquela tarde, vitorioso e sem uma única baixa em seu exército, volta e descobre que o acampamento havia sido incendiado, e os 140 homens estavam mortos.

O Portal da Glória

Ao chegar em Santiago de Compostela, o caminhante deve obedecer uma série de rituais, entre eles colocar a mí£o em um belí­ssimo pórtico na porta principal da igreja. Conta a lenda que tal obra de arte foi encomendada pelo rei Fernando II no ano 1187 í  um artesí£o encarregado chamado Mateus.

Durante anos, ele trabalhou o mármore, esculpindo inclusive sua própria figura, de joelhos, na parte detrás da coluna central.

Quando Mateus terminou sua obra, os habitantes da cidade resolveram furar seus olhos, para que jamais pudesse repetir tal maravilha em nenhum outro lugar do mundo.

Próximo texto será posto em linha dia 03.05.06

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