Paulo Coelho

Stories & Reflections

Problemas de comunicaí§í£o

Author: Paulo Coelho

Diante da catedral

Eu estava me sentindo muito só quando saí­ de uma missa na Catedral de Saint Patrick, em plena New York.

De repente, fui abordado por um brasileiro:

– Preciso muito falar com vocíª – ele disse.

Fiquei tí£o entusiasmado com o encontro, que comecei a contar tudo que achava importante para mim. Falei de magia, falei de bíªní§í£os de Deus, falei de amor. Ele escutou tudo em silíªncio, me agradeceu, e foi embora.

Ao invés de alegria, eu me senti mais só do que antes. Mais tarde fui me dar conta; no meu entusiasmo, ní£o tinha dado atení§í£o ao pedido daquele brasileiro.

Falar comigo.

Atirei minhas palavras ao vento, porque ní£o era isto que o Universo estava querendo naquela hora: eu teria sido muito mais útil se escutasse o que ele tinha a dizer.

 

Quem amamos?

Desde crianí§as, nos perguntam: vocíª ama papai? Vocíª ama titia? Vocíª ama seu professor?

Ninguém pergunta: vocíª se ama?

E terminamos gastando grande parte de nossa vida e de nossa energia tentando agradar os outros. Mas e a gente? O jesuí­ta Anthony Mello conta uma genial história a respeito.

Mí£e e filho estí£o numa lanchonete. Depois de escutar o pedido da mí£e, a garí§onete vira-se para o menino:

– O que vocíª quer?

– Um cachorro-quente.

– Nada disso – diz a mí£e.- Ele quer bife com verduras.

A garí§onete, ignorando o comentário, pergunta ao garoto:

– Vocíª prefere com mostarda ou com ketchup?

– Os dois – responde o garoto.

E logo em seguida vira-se para a mí£e, surpreso:

– Mamí£e! ELA ACHA QUE EU SOU DE VERDADE!

 

Ninguém acredita

Conta a lenda que, logo após sua Iluminaí§í£o, Buda resolveu passear pelos campos. No caminho, encontrou um lavrador, que ficou impressionado com a luz que emanava do mestre.

– Meu amigo, quem é vocíª? – perguntou o lavrador. – Pois tenho a sensaí§í£o que estou diante de um anjo, ou de um Deus.

– Ní£o sou nada disto – respondeu Buda.

– Quem sabe vocíª é um poderoso feiticeiro?

– Tampouco.

– Entí£o, o que o faz ser tí£o diferente dos outros, a ponto de um simples camponíªs como eu ser capaz de notar isto?

– Sou apenas alguém que acordou para a vida. Nada mais. Mas falo isto para todo mundo, e ninguém acredita.

 

O guarda-chuva

Como manda a tradií§í£o, ao entrar na casa do mestre zen, o discí­pulo deixou do lado de fora os sapatos e o guarda-chuva.

– Vi pela janela que vocíª chegava – comentou o mestre. – Vocíª deixou os sapatos í  direita ou í  esquerda do guarda-chuva?

– Ní£o tenho a menor idéia. Mas que importí¢ncia tem isso? Eu estava pensando no segredo do Zen!

– Se vocíª ní£o prestar atení§í£o na vida, jamais aprenderá coisa alguma. Comunique-se com a vida, díª a cada segundo a atení§í£o que merece; este é o único segredo do Zen.

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