Paulo Coelho

Stories & Reflections

As quatro forí§as

Author: Paulo Coelho

O padre Alan Jones diz que, para a construí§í£o de nossa alma, precisamos das Quatro Forí§as Invisí­veis: amor, morte, poder e tempo. É necessário amar, porque somos amados por Deus. É necessária a consciíªncia da morte, para entender bem a vida. É necessário lutar para crescer – mas sem cair na armadilha do poder que conseguimos com isto, porque sabemos que ele ní£o vale nada. Finalmente, é necessário aceitar que nossa alma – embora seja eterna – está neste momento presa na teia do tempo, com suas oportunidades e limitaí§íµes.

Primeira forí§a: amor

A esposa do rabino Iaakov vivia procurando um motivo para discutir com o marido. Iaakov nunca respondia as provocaí§íµes.

Até que, durante um jantar com alguns amigos, o rabino terminou discutindo ferozmente com sua mulher, surpreendendo a todos na mesa.

– O que aconteceu? – perguntaram – Por que abandonou seu costume de jamais responder?

– Porque percebi que o que mais perturbava minha mulher era o fato de ficar em silíªncio. Agindo assim, eu permanecia distante de suas emoí§íµes.

“Minha reaí§í£o foi um ato de amor, e eu consegui fazíª-la entender que escutava suas palavras”.

Segunda forí§a: morte

Assim que morreu, Juan encontrou-se num belí­ssimo lugar, rodeado pelo conforto e beleza que sonhava. Um sujeito vestido de branco aproximou-se:

– Vocíª tem direito ao que quiser.

Encantado, Juan fez tudo que sonhou fazer durante a vida. Depois de muitos anos de prazeres, procurou o sujeito de branco. Disse que já tinha experimentado tudo, e agora precisava de um pouco de trabalho para sentir-se útil.

– Essa é a única coisa que ní£o posso conseguir – disse o sujeito de branco.

– Passarei a eternidade morrendo de tédio! Preferia mil vezes estar no inferno!

– E onde o senhor pensa que está?

Terceira forí§a: poder

– Tenho passado grande parte do meu dia pensando coisas que ní£o devia pensar, desejando coisas que ní£o devia desejar, fazendo planos que ní£o devia fazer.

O mestre apontou uma planta e perguntou se o discí­pulo sabia o que era.

– Beladona. Pode matar quem comer suas folhas.

Mas ní£o pode matar quem simplesmente a contempla. Da mesma maneira, os desejos negativos ní£o podem causar nenhum mal – se vocíª ní£o se deixar seduzir por eles.

Quarta forí§a: tempo

Um carpinteiro e seus auxiliares viajavam em busca de material quando viram uma árvore gigantesca.

– Ní£o vamos perder nosso tempo – disse o mestre carpinteiro. – Para cortá-la, demoraremos muito. Se quisermos fazer um barco, ele afundará, de tí£o pesado o seu tronco. Se resolvermos usá-la para a estrutura de um teto, as paredes terí£o que ser exageradamente resistentes.

O grupo seguiu adiante. Um dos aprendizes comentou:

– É uma árvore tí£o grande e ní£o serve para nada!

– Vocíª está enganado. Ela seguiu seu destino a sua maneira. Se fosse igual as outras, nós já a terí­amos cortado. Mas porque teve coragem de ser diferente, permanecerá viva e forte por muito tempo.

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