Paulo Coelho

Stories & Reflections

Personagem da semana: Maria

Author: Paulo Coelho

Maria e eu, 2002

“…Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto do céu, alegrar quem o observasse.

Um dia, uma mulher viu esse pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu ví´o com a boca aberta de espanto, o coraí§í£o batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoí§í£o.
Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.

Mas entí£o pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo.
Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.

E pensou: “Vou montar uma armadilha. A próxima vez que o pássaro surgir, ele ní£o mais partirá.”

O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paixí£o, e ela mostrava pra suas amigas, que comentavam:”Mas vocíª é uma pessoa que tem tudo.”
Entretanto, uma estranha transformaí§í£o comeí§ou a processar-se: Como tinha o pássaro, e já ní£o precisava conquistá-lo, foi perdendo o interesse.
O pássaro, sem poder voar exprimir o sentido de sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio – e a mulher já ní£o prestava mais atení§í£o nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava de sua gaiola.

Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e vivia pensando nele. Mas ní£o se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era sua liberdade, a energia das asas em movimento, ní£o o seu corpo fí­sico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido.

Oxalá tivesse entendido: o amor só dura em liberdade. Mas agora era tarde demais.

do diario da prostituta Maria, em ONZE MINUTOS

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