Stories & Reflections
(estou dando uma conferíªncia em Túnis, Tunisia, abril de 2006)
A conversa continua, o tempo passa rapidamente e preciso terminar a palestra. Escolho ao acaso, no meio de 600 pessoas, um homem de meia-idade, com um grosso bigode, para a pergunta final.
– Ní£o quero fazer nenhuma pergunta – diz ele. – Quero apenas falar um nome.
E diz o nome de uma pequena igreja em Barbazan-Debat, que fica no meio de lugar nenhum, a milhares de quilí´metros de onde me encontro, e onde um dia coloquei uma placa agradecendo um milagre. É o nome da igreja aonde fui, antes desta peregrinaí§í£o, pedir í Virgem que protegesse os meus passos.
Eu já ní£o sei mais como continuar a conferíªncia. As palavras a seguir foram escritas por um dos apresentadores que compunham a mesa:
“E de repente o Universo parecia ter parado de se mover naquela sala. Tantas coisas aconteceram: eu vi suas lágrimas.
Eu vi as lágrimas de sua doce mulher, quando aquele leitor aní´nimo pronunciou o nome de uma capela perdida em um lugar do mundo.
Vocíª perdeu a voz. Seu rosto sorridente tornou-se sério.
Seus olhos se encheram de lágrimas tímidas, que tremiam na ponta dos cílios, como se quisessem se desculpar por estarem ali sem serem convidadas.
Ali também estava eu, sentindo um nó na garganta, sem saber por quíª.
Procurei na plateia minha mulher e minha filha, sí£o elas que sempre busco quando me sinto í beira de algo que ní£o conheí§o.
Elas estavam lá, mas tinham os olhos fixos em vocíª, silenciosas como todo mundo, procurando apoiá-lo com seus olhares, como se olhares pudessem apoiar um homem.
Entí£o procurei fixar-me em Christina, pedindo socorro, tentando entender o que estava acontecendo, como terminar aquele silíªncio que parecia infinito.
E vi que também ela chorava, em silíªncio, como se vocíªs fossem notas da mesma sinfonia e como se as lágrimas dos dois se tocassem apesar da distí¢ncia.
E durante longos segundos já ní£o havia mais sala, nem público, nada mais.
Vocíª e sua mulher tinham partido para um lugar onde ninguém podia segui-los; tudo o que existia era a alegria de viver, contada apenas com o silíªncio e a emoí§í£o.
As palavras sí£o lágrimas que foram escritas. As lágrimas sí£o palavras que precisam jorrar. Sem elas, nenhuma alegria tem brilho, nenhuma tristeza tem um final.
Portanto, obrigado por suas lágrimas.”
Deveria ter dito í moí§a que tinha feito a primeira pergunta – sobre os sinais – que ali estava um deles, afirmando que eu me encontrava no lugar onde devia estar, na hora certa, apesar de nunca entender direito o que me levou até ali.
trecho de O ALEPH